Renda de bilro: uma trama de tradição, impacto e valorização

Selo valoriza tradição açoriana, trabalho das rendeiras e fortalece o artesanato como patrimônio cultural, turístico e econômico.

As comemorações do Dia do Manezinho, no dia 7 de junho vieram acompanhadas de uma notícia importante relacionada à valorização de uma das tradições mais características de Florianópolis: a renda de bilro. Durante as atividades no Largo da Alfândega, foi sancionada a lei que cria o Selo de Qualificação e Certificação das Rendas de Bilro.

Foto: Allan Carvalho / Divulgação PMF

O selo funcionará como uma certificação oficial da procedência, qualidade e autenticidade das rendas produzidas artesanalmente no município. A proposta tem como objetivo não apenas proteger a identidade cultural da cidade, mas também impulsionar o valor econômico do artesanato local. Peças que ostentarem o selo terão garantia de terem sido feitas com técnicas tradicionais e práticas sustentáveis, o que deverá facilitar a comercialização, inclusive em mercados internacionais.

A nova legislação integra uma série de esforços que buscam preservar e valorizar o saber-fazer das rendeiras, um patrimônio imaterial transmitido de geração em geração desde meados do século XVIII, quando os primeiros colonos açorianos trouxeram à Ilha de Santa Catarina seus hábitos, modos de vida e artes manuais.

Saiba mais sobre a traição da renda e das rendeiras da Ilha a seguir.

dia do manezinho
Foto: Andy Puerari / Divulgação PMF

Uma tradição entrelaçada com a história da cidade

A renda de bilro faz parte da identidade cultural de Florianópolis há quase três séculos. A tradição, originária da Ilha dos Açores, chegou com os primeiros colonizadores portugueses e foi mantida, principalmente, por mulheres que aprenderam a técnica com mães, avós e vizinhas. O ditado popular “onde tem rede, tem renda” traduz bem esse vínculo entre as comunidades pesqueiras e o artesanato que se desenvolvia à beira-mar.

A arte consiste em entrelaçar fios com o auxílio de bilros de madeira sobre uma almofada, formando padrões delicados e complexos. O processo, minucioso e paciente, exige habilidade e ritmo. Em Florianópolis, o ofício está presente em bairros como Armação, Lagoa da Conceição, Campeche, Ribeirão da Ilha e Ponta das Canas, onde associações locais mantêm viva a prática – muitas vezes em rodas informais que misturam trabalho, canto e convivência comunitária.

Reconhecida como um dos símbolos culturais de Florianópolis e um dos produtos que não podem faltar na bagagem de quem nos visita e quer levar uma lembrança especial da cidade, a renda de bilro mobiliza artesãs de todas as idades que participam de feiras, oficinas e eventos públicos, como as rodas mensais no Largo da Alfândega e celebrações especiais como o Dia do Manezinho e a abertura da safra da tainha, entre outros, que celebram a continuidade de diferentes tradições da Ilha que estimulam o aprendizado entre novas gerações.

Foto: Andy Puerari / Divulgação PMF

Um dos principais pontos para conhecer esse universo é o Armazém da Renda, no Mercado Público. Lá, turistas e moradores podem observar o trabalho das rendeiras – e do Ediwaldo Pedro de Oliveira, o Dinho Rendeiro, o primeiro homem da cidade a assumir o ofício publicamente. Natural do Pântano do Sul, Dinho aprendeu a fazer renda escondido, em meio a uma tradição predominantemente feminina. Hoje, é uma das figuras mais conhecidas do artesanato local e também tema do documentão “As rendas de Dinho”.

Cultura que se reinventa e inspira

A renda de bilro é mais que um produto artesanal: é memória viva, herança afetiva e expressão da criatividade feminina. Com o novo selo de qualificação, Florianópolis reafirma seu compromisso com a preservação dessa prática e com o reconhecimento das mãos que, com paciência e sabedoria, mantêm essa arte ancestral pulsando na contemporaneidade.

Seja nos detalhes de uma almofada bordada, seja na voz das mulheres que seguem ensinando e aprendendo em roda, a renda segue sendo tecida como parte do próprio tecido social da cidade. E a visibilidade da atividade das rendeiras está no petit-pavé do piso da Praça XV e no telhado estilizado do bar-café do Largo da Alfândega, mas também serviu de inspiração para duas das músicas mais populares sobre Florianópolis.

rendas de bilro
Foto: Allan Carvalho / Divulgação PMF

A primeira, nosso hino, o “Rancho de Amor à Ilha”, do poeta Zininho, com os versos “Ilha da moça faceira / da velha rendeira tradicional”, abaixo na versão do Dazaranha.

E a segunda, “Barra da Lagoa”, gravada pelo grupo Engenho, que diz “renda em dobro pra Maria / que é rendeira da Lagoa da Conceição”.

 

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