De olho no lanço: o ixpetáculo da tainha vai começar

Entenda como funciona a pesca artesanal da tainha, onde ver os lanços e por que a tainha é símbolo da identidade de Floripa.

A partir do dia 1º de maio não se fala de outra coisa em Floripa: onde está dando tainha? Pelo WhatsApp, são compartilhados os avisos de novos lanços, antes mesmo que o peixe capturado vá parar nas distribuidoras e peixarias. Por isso, a “rede de comunicação” da tainha faz com que moradores se desloquem até as praias e garantam sua tainha para preparar de diferentes maneiras. Ou seja, tainha é notícia e se espalha rapidamente de ponta a ponta da cidade. Vira assunto para a turma do dominó da Praça XV, domina o espaço nos balcões das peixarias do Mercado Público e nos cardápios dos restaurantes. Enfim, mobiliza a cidade. E motivos para isso não faltam.

Continue a leitura para entender a importância econômica, social e cultural da tainha, uma das nossas mais festejadas tradições.

A tradição que vem com o vento sul

Todos os anos, entre 1º maio e 31 de julho, período da safra da tainha, quando a pesca é permitida, as praias de Florianópolis se transformam em palco de uma das manifestações culturais mais genuínas do Brasil: a pesca da tainha. Esse ritual, de origem açoriana, atravessa gerações e se mantém vivo como Patrimônio Cultural Imaterial de Santa Catarina, título concedido em abril de 2019. Mais do que capturar um peixe, trata-se de preservar uma identidade coletiva que resiste ao tempo e às transformações da cidade.

Nas comunidades pesqueiras da Ilha, a chegada da tainha é acompanhada por orações, bênçãos das redes e expectativas que se renovam a cada temporada. Não por acaso, em abril de 2025, foi instituído o dia 1º de maio como o Dia Estadual de Abertura da Safra da Tainha como forma de valorizar a pesca artesanal e as tradições culturais relacionadas à atividade.

espetaculo da tainha
Foto: Ricardo Wolffenbüttel / Divulgação SECOM

O lanço: arte, técnica e fé

A pesca artesanal da tainha em Florianópolis é feita pelo sistema de “arrasto de praia”. Esse método, além de eficiente, é uma verdadeira coreografia coletiva. Tudo começa com o olheiro, figura central da tradição. Posicionado em pontos altos das praias, como dunas e morros, ele observa o mar e identifica os cardumes a partir das sombras que se movem sob a superfície ou do brilho prateado das tainhas.

O aviso de peixe transforma a praia: os pescadores correm com as canoas, lançam a rede em meia-lua e a grande mobilização começa. É o “lanço”. Puxar a rede exige sincronia, força e união — uma tradição que envolve não só os pescadores, mas toda a comunidade e até quem está na praia passeando ou “de bobeira”. E quando o cerco se fecha e o mar devolve à areia centenas, às vezes milhares de peixes, não há como não se emocionar. Há gritos, aplausos e até lágrimas.

Depois do lanço, vem a partilha. Geralmente, metade do que é pescado costuma ser vendido para manter o rancho e os custos da atividade. A outra metade é repartida entre os pescadores e quem ajuda, mesmo como visitante, pode ganhar uma tainha (ou até mais) em agradecimento. A pesca, assim, é sustento e também generosidade.

Safra de 2024: números que impressionam

As comunidades pesqueiras vivem a expectativa pelo início da safra e pela repetição dos números acima da média alcançados em 2024 quando Florianópolis viveu uma das maiores safras de tainha de sua história recente. Estão literalmente de “olho nos lanços” já que ano passado foram mais de 445 mil tainhas capturadas apenas pela pesca artesanal — um feito que encheu de orgulho as comunidades pesqueiras. Só a Barra da Lagoa, maior ponto de pesca da cidade, respondeu por 37.480 tainhas. Lagoinha do Norte, Prainha da Barra e Pântano do Sul também se destacaram.

O maior lanço individual do ano foi registrado na Prainha da Barra da Lagoa, com cerca de 22 mil peixes em uma única puxada. Esses números não são apenas estatísticas: eles representam trabalho, sustento e o êxito de um modo de vida coletivo. Também são resultado de condições favoráveis do mar e da adoção de práticas sustentáveis na gestão da pesca.

pesca da tainha em florianópolis
Foto: Ricardo Wolffenbüttel / Divulgação SECOM

Esses resultados dos lanços mostram como a pesca da tainha movimenta a cidade como poucos eventos conseguem. Vai muito além das praias. Os peixes capturados abastecem peixarias, mercados, supermercados e restaurantes. Em 2024, o preço da tainha ovada no Mercado Público variava entre R$ 16,90 e R$ 22,00/kg — acessível para muitos, mas com valor econômico significativo para os pescadores.

Além disso, o período de safra atrai turistas, gera empregos temporários e aquece setores como hotelaria, transporte, turismo e, principalmente, comércio pesqueiro e gastronomia. É um verdadeiro ciclo virtuoso em que o mar alimenta a economia e ajuda a manter uma das nossas principais tradições.

Participar da pesca: experiência única

Para quem visita Floripa entre maio e julho, a pesca da tainha é uma experiência imperdível. Acordar cedo e acompanhar um lanço ao vivo é uma emoção que fica marcada. Ver a rede sendo puxada, escutar os comandos dos pescadores, sentir o cheiro do mar e do peixe fresco… é turismo sensorial, autêntico e inesquecível.

Além disso, os ranchos estão abertos à visitação informal. Muitos pescadores gostam de conversar, explicar as técnicas, contar causos e até convidar o visitante para ajudar. Participar de um lanço e ganhar uma tainha é um dos souvenirs mais autênticos que se pode levar de Florianópolis.

Eventos como a abertura oficial da safra, festivais de tainha em restaurantes e festas comunitárias também são ótimas oportunidades de vivenciar a cultura local. Neste contexto, um dos eventos que marca a abertura da safra ocorre na praia do Campeche desde 2006 e reúe pescadores, familiares e visitantes para comemorar o início da temporada de pesca. Em 2025, não será diferente e a abertura será festada no Rancho do Seu Getúlio na noite do dia 30 de abril e no dia 1º de maio. breve, programação completa. A promoção é do Instituto Getúlio Manoel Inácio.

abertura safra da tainha
Foto: Marco Favero / Divulgação SECOM

Onde ver de perto de perto a pesca da tainha

Quem deseja vivenciar de perto (e em bom manezês) o ixpetáculo pesca da tainha pode visitar algumas das principais praias onde a atividade acontece em Florianópolis. São elas:

  • Barra da Lagoa

  • Prainha da Barra

  • Pântano do Sul

  • Campeche

  • Ingleses

  • Lagoinha do Norte

  • Praia Brava

  • Moçambique

  • Santinho

  • Naufragados

  • Praia do Gravatá


 

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Crédito da foto em destaque: Ricardo Wolffenbüttel / Divulgação SECOM

Locais Citados

Praia do Campeche
Praia Brava
Barra da Lagoa
Praia dos Ingleses
Praia do Santinho
Praia do Moçambique
Pântano do Sul
Praia do Gravatá
Praia de Naufragados

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