Não, a figueira — como a centenária que reina na Praça XV — apesar de sua fama e imponência, não é a árvore-símbolo de Florianópolis. Esse posto pertence, desde 25 de maio de 1992, ao garapuvu (Schizolobium parahyba), conforme a Lei Municipal nº 3.771, aprovada pela Câmara de Vereadores.
A escolha reconheceu oficialmente uma árvore que já fazia parte do imaginário, da paisagem e da história da Iilha. Uma árvore que moldou tradições, navegou em forma de canoa e hoje floresce como símbolo vivo da relação entre cidade, cultura e natureza.
O garapuvu representa mais que beleza paisagística: é a síntese da relação de Florianópolis com seu território. Um elo entre mata e mar, entre o saber ancestral e o cotidiano contemporâneo. Sua imagem se reflete na arte, na música, na literatura e nas histórias contadas à sombra de seus galhos.
Com sua floração vibrante e tronco imponente, o garapuvu colore os morros e terrenos planos da cidade com tons de verde e amarelo — seja isolado ou em grupo. Também conhecido como pau-de-vintém, pau-de-tambor, fava divina ou espanador-do-céu, é uma espécie nativa da Mata Atlântica e se espalha por vários estados do Brasil, mas é em Florianópolis que ele ganha seu significado mais simbólico.
Garapuvus como o da Costa de Cima, no Sul da Ilha, que ilustram este texto, tornaram-se verdadeiros santuários naturais. Locais de contemplação e registro, onde a história encontra a paisagem.

Tronco que navega na história
Muito antes da proibição do corte da árvore, o garapuvu já era fundamental na vida das comunidades pesqueiras da ilha. Sua madeira leve e resistente era esculpida em mutirão para criar as tradicionais “canoas-de-um-pau-só” — embarcações moldadas a partir de um único tronco.
Essa prática, herdada dos indígenas carijós e preservada pelos açorianos, era comum na Costa da Lagoa, por exemplo, e em outras regiões da ilha. O tronco era carregado da mata até a praia por várias mãos e, com ferramentas simples, transformado em transporte, sustento e memória.

O ciclo do garapuvu: como identificá-lo na paisagem
- Outono (março a maio)
Fase de dormência. As folhas caem e o tronco se revela, marcando a temporada em que, antigamente, se escolhiam os melhores exemplares para construção de canoas. - Inverno (junho a agosto)
Sem folhas, a estrutura da árvore se destaca. Era o momento de extrair e transportar os troncos até a praia para esculpir embarcações. - Primavera (setembro a dezembro)
Explosão de flores amarelas. Os morros e encostas da cidade ganham vida com a floração intensa e chamativa, hoje símbolo visual de Florianópolis. - Verão (janeiro a março)
Frutificação. Vagens se abrem, liberando sementes aladas que garantem a regeneração da espécie e a continuidade do ciclo ecológico.

Características da espécie: ficha técnica do garapuvu
- Nome científico: Schizolobium parahyba
- Altura: até 30 metros
- Tronco: até 80 cm de diâmetro
- Folhas: bipinadas, até 1 metro
- Floração: amarela, entre outubro e dezembro
- Distribuição: Bahia a Rio Grande do Sul (Mata Atlântica)
- Outros nomes: pau-de-canoa, guapuruvu, fava-divina, espanador-do-céu
- Função ecológica: espécie pioneira, usada em reflorestamento

Preservação e reinvenção cultural
Com o reconhecimento de sua importância histórica, o corte do garapuvu passou a ser proibido. Hoje, apenas árvores caídas naturalmente podem ser reaproveitadas. Projetos educativos e culturais continuam a ensinar e celebrar esse saber tradicional, ressignificando o uso da árvore e inspirando novas expressões. O garapuvu também floresce na arte, como nas canções “Garapuvu”, do grupo Gente da Terra, e “Garapuvu”, de Kiriá, que homenageiam suas raízes e sua força simbólica.
Ouça.
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