Mesmo com a sua reedição em vinil, em 2022, lançado com um compacto de bônus e faixas inéditas, Mestiço, do cantor e compositor Luiz Henrique Rosa (1938-1985), segue objeto de desejo para os colecionadores em todo o mundo: dependendo do estado da cópia, o disco pode chegar a R$ 5 mil em sites de leilão. Gravado em 1975 no lendário Sound City, em Los Angeles (EUA), e também no Rio de Janeiro, o álbum, lançado em 1976, ainda é um dos segredos mais bem guardados da música catarinense.
Sabendo do abismo que existe entre relevância e popularidade desse clássico, o trio Skrotes faz no dia 27 de agosto (quarta-feira), no TAC (Teatro Álvaro de Carvalho), um show em homenagem ao artista tubaronense, que faleceu há exatos 40 anos em Florianópolis vítima de um acidente de carro. Formado por Igor de Patta (piano e sintetizadores), Chico Abreu (baixo) e Guilherme Ledoux (bateria), o trio de Floripa executará o repertório de Mestiço na íntegra, além de outras canções da obra de Luiz Henrique, e traz como convidados Claudia Barbosa, Diego Raimundo, Emília Carmona, François Muleka e Yasmin Zoran.

Segundo tributo à Mestiço
Não é a primeira vez que o clássico de Luiz Henrique ganha um tributo. Em 2021, em plena pandemia da Covid-19, Diego Raimundo (voz e violão), Igor de Patta e Guilherme Ledoux realizaram uma transmissão ao vivo tocando Mestiço, com o mesmo objetivo: jogar luz sobre a discografia do cantor e compositor, ainda pouco conhecida.
O baixista Chico Abreu acredita que um dos atrativos para o show, além do repertório, é o encontro de gerações de artistas que acontecerá no palco do TAC. “O Luiz Henrique teve uma história bem bonita, o respaldo dos músicos, tanto aqui quanto nos Estados Unidos, ao mesmo tempo ainda é um cara bem desconhecido”, diz. “Quem tem raízes aqui em Floripa sabe quem é, mas o grande público não faz a menor ideia dessa história”.
Segundo Abreu, a escolha dos convidados do show do dia 27 foi pensada com este propósito. “Alguns não conheciam e se apaixonaram, compraram a ideia”, conta. “A gente trouxe gente mais nova, como a Yasmin, até a Claudia, que é parte dessa história, já que o pai dela, o poeta Zininho, tem músicas com o Luiz Henrique. É um time bem interessante”, completa o músico e produtor cultural.
Ouça Mestiço está no Spotify.
Quem foi Luiz Henrique Rosa
Nascido em Tubarão, mas manezinho de coração, Luiz Henrique Rosa foi um personagem importante na música brasileira nos anos 60, participando do movimento da bossa nova no Rio de Janeiro na primeira metade da década. Nos Estados Unidos, o artista conviveu e tocou com João Gilberto, Stan Getz, Sivuca, Hermeto Pascoal, Oscar Brown Jr., Liza Minelli, Walter Wanderley e o também catarinense Airto Moreira. Os discos gravados nessa época foram lançados pela icônica gravadora Verve em países como Alemanha, França, Inglaterra, Itália, Japão, entre outros.
Em 1971, o cantor e compositor voltou a morar em Florianópolis, onde continuou fazendo shows e promovendo a cultura local, inclusive como apresentador de TV. Em 1976, criou uma gravadora independente, a Itagra, e lançou Mestiço, que é um marco na sua carreira pelos arranjos sofisticados, como na progressiva “Jandira”, e a participação de músicos como o pianista Tenório Jr., o baixista Luizão Maia, os bateristas Edison Machado e Paulo Braga e outros grandes instrumentistas da música brasileira. A capa foi assinada pelo artista plástico Hassis (1926-2001), conhecido pelo piso petit pavé que representa elementos da cultura ilhéu como rendas de bilro e boi de mamão.
No ano de 1979, Luiz Henrique Rosa causou um grande agito na então pacata capital catarinense, quando trouxe a amiga Liza Minelli para seis dias de férias após uma turnê da cantora e atriz no eixo Rio-São Paulo. O artista faleceu aos 46 anos de idade em um acidente de carro em 9 de julho de 1985, em Florianópolis, na rua Deputado Antônio Edu Vieira, entre os bairros Pantanal e Saco dos Limões, após o expediente no extinto Armazém Vieira, onde era gerente.

Floripa na obra de Luiz Henrique
O cantor e compositor deixou uma obra em que manifesta o seu amor por Floripa. Exemplos são as músicas “Minha lagoa”, “Florianópolis”, “Ponte Hercílio Luz”, “Itaguaçu”, entre outras. O artista também é coautor do hino do Avaí Futebol Clube (1971), que tem letra de Fernando Bastos.
Assista ao vídeo de “Itaguaçu”, gravado em 1981 na praia situada na parte continental de Florianópolis.
Em 2003, Luiz Henrique ganhou um tributo, batizado de A Bossa Sempre Nova de Luiz Henrique, produzido por Luiz Meira e com participações de Elza Soares, Martinho da Vila, Luiz Melodia, Ivan Lins, Sandra de Sá e Toni Garrido interpretando canções do compositor catarinense.
Ouça o A Bossa Sempre Nova de Luiz Henrique no Spotify.
Serviço: Tributo a Luiz Henrique Rosa: Skrotes e Convidados
- Data: 27 de agosto, quarta-feira
- Horário: 19h30
- Local: TAC (Teatro Álvaro de Carvalho), Rua Mal. Guilherme, 26, Centro
- Saiba mais e ingressos em Eventos.
Texto produzido por Daniel Silva, editor do site Rifferama, especializado em música catarinense.
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