A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) abriu, nesta segunda-feira (18), a exposição “Salim Miguel: 100 Anos”, em homenagem a um dos principais nomes da literatura catarinense e brasileira. A mostra, gratuita e aberta à comunidade, pode ser visitada até 12 de setembro, no térreo do Centro de Cultura e Eventos Reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h.
Reunindo documentos, fotografias, manuscritos e objetos pessoais, a exposição oferece ao público um panorama da trajetória do escritor, editor e jornalista libanês radicado em Santa Catarina, que publicou mais de 30 livros e teve papel central no desenvolvimento cultural do estado e do país.
Quem foi Salim Miguel
Salim Miguel (1924–2016) nasceu no Líbano e chegou ao Brasil aos três anos de idade, estabelecendo-se em Santa Catarina, onde construiu uma das carreiras mais sólidas da literatura brasileira contemporânea. Autor de mais de 30 livros, transitou entre gêneros diversos — romance, conto, crônica, ensaio, crítica literária e jornalismo — deixando uma obra marcada pela densidade temática, pelo rigor estilístico e pelo diálogo constante com a história e a política do país. Entre seus títulos mais conhecidos estão NUR na Escuridão, A Voz Submersa, Primeiro de Abril: narrativas da cadeia — escrito a partir de sua experiência de prisão durante o regime militar — e Nós, publicado postumamente pela Editora da UFSC.
Sua atuação, entretanto, foi muito além da produção literária. Salim foi editor, roteirista e jornalista de destaque, com passagens pela revista Manchete e pelo Jornal do Brasil, onde se consolidou como crítico literário entre as décadas de 1970 e 1980. Como gestor cultural, deixou um legado duradouro: dirigiu a Editora da UFSC (1983–1991), transformando-a em referência nacional, e, anos depois, comandou a Fundação Franklin Cascaes, onde colaborou para estruturar políticas culturais em Florianópolis.
O Grupo Sul e a parceria com Eglê Malheiros
Um dos capítulos mais marcantes de sua vida foi a criação do Grupo Sul, movimento que reuniu jovens intelectuais e artistas em Florianópolis entre 1947 e 1958. Inspirado pelas vanguardas modernistas e pela efervescência cultural do pós-guerra, o grupo rompeu com a rotina pacata da capital catarinense e lançou bases para uma nova cena artística no estado.
Salim Miguel foi um dos principais líderes do movimento, ao lado de sua esposa, Eglê Malheiros, companheira de toda a vida. Escritora, tradutora, advogada e professora de História, Eglê teve papel fundamental tanto no Grupo Sul quanto na trajetória literária do marido. Juntos, escreveram o argumento e o roteiro de O Preço da Ilusão (1958), o primeiro longa-metragem catarinense.
Além do cinema, o casal atuou intensamente em outras frentes culturais: organizaram exposições de arte contemporânea, colaboraram na criação do Museu de Arte Moderna de Florianópolis (1949) e editaram a influente revista Sul (1948–1957), que serviu como ponto de encontro para intelectuais brasileiros e estrangeiros, conectando Florianópolis a redes culturais em Lisboa, Montevidéu, Buenos Aires, Luanda e Nova York.
Reconhecimento e legado
A relevância de Salim Miguel foi reconhecida ao longo de sua carreira com prêmios como o Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, e o Zaffari & Bourbon, além do título de Doutor Honoris Causa pela UFSC. Sua obra, marcada pela inquietação intelectual e pelo engajamento com questões sociais, continua a inspirar novas gerações de leitores e pesquisadores.
Sua memória e a de Eglê permanecem vivas em diferentes espaços culturais: a Sala de Leitura Salim Miguel, no Hospital Universitário da UFSC, e o Espaço Eglê Malheiros & Salim Miguel, no centro de Florianópolis, celebram não apenas o escritor, mas também a dupla que ajudou a transformar a paisagem cultural de Santa Catarina e do Brasil.
Serviço — Exposição Salim Miguel: 100 Anos
- Local: Centro de Cultura e Eventos Reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo – UFSC (térreo)
- Período: até 12 de setembro de 2025
- Horário: segunda a sexta-feira, das 8h às 18h
- Entrada: gratuita e aberta ao público
