Em meio à velocidade das transformações sociais e tecnológicas, algumas tradições resistem com firmeza ao tempo, preservando histórias, símbolos e valores transmitidos de geração em geração. Uma dessas celebrações é a Festa do Divino Espírito Santo, manifestação de fé e cultura popular que, há quase 250 anos, ocupa ruas, igrejas e corações em Florianópolis.
E quem circula pela cidade, já percebeu as bandeiras vermelhas do Divino penduradas em postes, janelas e grades porque é partir de maio, com o lançamento do Ciclo do Divino, que as comunidades se mobilizam e promovem suas festas atraindo grande público para a tradição que é parte da nossa herança açoriana, como você conferi a seguir.

Raízes medievais e herança açoriana
Mais do que um evento religioso, a festa representa o espírito de solidariedade, partilha e união, herdado dos açorianos que chegaram à Ilha de Santa Catarina a partir de 1748. A origem dessa tradição remonta à Europa medieval.
No final do século 12, a Festa do Divino surgiu na Alemanha e ganhou força em Portugal, especialmente nos Açores, onde se enraizou como uma das celebrações mais importantes da religiosidade popular. No Brasil, foi trazida pelos imigrantes açorianos e passou a ser celebrada com fervor em diversas comunidades do litoral catarinense. Em Florianópolis, a primeira festa data de 1775 e, desde então, nunca deixou de ser realizada.
A narrativa mais difundida sobre sua origem em Portugal envolve Isabel de Aragão, conhecida como a “Rainha Santa”. Devota cristã, Isabel prometeu ao Espírito Santo um culto e a própria coroa se as tensões entre seu esposo, o rei Dom Dinis, e o filho Afonso fossem resolvidas. Com a paz restaurada, a rainha cumpriu sua promessa: levou a coroa até a Igreja do Espírito Santo, em Alenquer, no dia de Pentecostes, acompanhada por uma procissão e por um grande banquete oferecido aos pobres — o bodo. Esse gesto de entrega e igualdade deu origem ao simbolismo do Império do Espírito Santo, que perdura até hoje.
Símbolos, rituais e celebrações populares
Muito além de uma celebração religiosa, a Festa do Divino Espírito Santo reúne elementos profanos, folclóricos e culturais, criando uma experiência comunitária única. Comemorada a partir das celebrações de Pentecostes — 50 dias após a Páscoa —, a festa envolve uma série de rituais que simbolizam a devoção ao Espírito Santo e a esperança em uma era de paz, igualdade e solidariedade.

Entre os elementos mais emblemáticos está a bandeira do Divino, ornada com fitas coloridas e conduzida em procissão pelas ruas das comunidades. Acompanhados por rabeca, tambor e viola, os foliões do Divino visitam casas anunciando a chegada da festa e arrecadando donativos. As celebrações incluem novenas, cantorias, promessas, pãezinhos, bailes e folguedos populares, culminando com a procissão da corte imperial e a coroação do Imperador, ponto alto do ciclo.
O simbolismo da festa é rico e profundo. A bandeira representa a presença do Espírito Santo; a coroa e o cetro evocam a nobreza que serve ao povo. O peditório e o bodo traduzem o espírito de partilha. É uma celebração que une fé, cultura e comunidade em torno de valores como caridade, igualdade, humildade e esperança.
O Ciclo do Divino em Florianópolis
Em Florianópolis, a festa ganhou novo fôlego com a criação do Ciclo do Divino Espírito Santo, oficializado pela Lei Municipal n° 10.424/2018, que determina o sábado da quinta semana após a Páscoa como o Dia Municipal de Abertura das Festividades. Em 2025, o ciclo começa no dia 24 de maio e se estende até 21 de setembro, quando será encerrado com a última festa do calendário, na Igreja de São Francisco de Paula, em Canasvieiras.
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Desde 2010, com apoio da Prefeitura de Florianópolis e da Fundação Cultural Franklin Cascaes, o ciclo reúne anualmente as 14 comunidades da capital que realizam a festa — Centro, Monte Verde, Ribeirão da Ilha, Trindade, Prainha, Estreito, Rio Tavares, Pântano do Sul, Lagoa da Conceição, Campeche, Rio Vermelho, Barra da Lagoa, Santo Antônio de Lisboa e Canasvieiras — em um desfile de abertura no Centro da cidade. Outras festas de municípios vizinhos também participam, reforçando o caráter coletivo e regional da tradição.

O apoio do poder público e o envolvimento das comunidades têm garantido a continuidade e o crescimento da festa. Nos últimos anos, nenhuma comunidade deixou de realizar sua edição, e o número de participantes vem crescendo a cada ciclo. Está prevista ainda uma sessão comemorativa de encerramento em homenagem à festa de 2025, com o objetivo de valorizar os festeiros e incentivar os casais que irão assumir a organização em 2026.
Manifestação viva da nossa identidade
A Festa do Divino Espírito Santo é mais do que uma herança cultural: é uma manifestação viva da identidade das comunidades de Florianópolis. Reconhecida como Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de Santa Catarina pela Lei Estadual nº 15.731/2012, e com sua edição no Centro da cidade registrada como Patrimônio Imaterial, a festa segue mobilizando moradores e visitantes, conectando o presente às raízes que sustentam a cultura do litoral catarinense.

A cada ano, o ciclo das festas se renova sem perder sua essência, impulsionado pela fé, pela música, pela convivência comunitária e pelo compromisso com a memória coletiva. A tradição se reinventa, cresce e permanece. As comunidades já estão mobilizadas para o ciclo de 2025, com ações acontecendo nos bairros, como no Ribeirão da Ilha, onde os festeiros vêm promovendo encontros, novenas e eventos de preparação para a celebração. Esse movimento reforça o envolvimento das famílias e o sentimento de pertencimento que a festa desperta em cada localidade.
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