Zininho, o poeta maior de Florianópolis

Celebre Zininho, mestre da música ilhéu, cuja poesia imortalizou Florianópolis no hino “Rancho de Amor à Ilha”.

O dia 8 de maio é mais do que uma simples data no calendário: é o momento de celebrar e relembrar o nascimento de Cláudio Alvim Barbosa (1929 – 1998), eternizado como Zininho, o maior compositor popular da história de Florianópolis. Autor do emblemático “Rancho de Amor à Ilha”, o hino oficial da cidade, ele deixou um legado de mais de uma centena de composições que embalaram a era de ouro do rádio nas décadas de 1950 e 1960.

Foto: Acervo Cláudia Barbosa

Nascido e criado na capital catarinense, Zininho iniciou sua trajetória artística aos 8 anos como cantor amador. Aos 20, já era um nome conhecido na noite ilhéu e foi contratado pela Rádio Guarujá, onde alcançou grande popularidade. Era anunciado com humor no programa O Gentleman do Samba (1949), sucesso imediato na programação:

“Eu já não posso mais sair na rua, / Sou conhecido de qualquer jeitinho, / E as meninas quando me avistam, / Vão logo dizendo: aí vem o Zininho!”

Mas foi em 1951, ao se transferir para a Rádio Diário da Manhã, que sua criatividade atingiu o auge. Na emissora, atuou como cantor, radioator, sonoplasta, produtor, além de compor jingles, vinhetas e trilhas para os principais programas da época. Dali surgiram clássicos como “A Rosa e o Jasmim”, “Quem é que Não Chora”, “Princesinha da Ilha” e, claro, o icônico “Rancho de Amor à Ilha”.

Após sua morte, o artista deixou um acervo de mais de 3 mil discos, fitas e vídeos, preservado hoje no Arquivo Zininho, sob os cuidados da Casa da Memória, vinculada à Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes. Zininho também compôs os hinos oficiais das cidades de Rio Negro (PR) e Joinville (SC), ampliando seu legado para além da ilha.

Zininho Aldírio Simões e Luiz Henrique Rosa
Na foto, Zininho ao lado de outros ícones da cultura ilhéu: Aldírio Simões e Luiz Henrique Rosa. Fotos: Acervo Cláudia Barbosa

A história do “Rancho de Amor à Ilha”

Em 1965, Florianópolis vivia tempos turbulentos: a ditadura militar havia nomeado o general Vieira da Rosa como prefeito, que enfrentava forte impopularidade após um aumento de impostos. Para aliviar o clima, sua gestão criou o concurso “Uma Canção para Florianópolis”, que recebeu mais de 200 inscrições de todo o país.

Zininho, já um artista consagrado, inscreveu o “Rancho de Amor à Ilha” apenas na última hora, incentivado por amigos como o radialista Adolfo Zigelli — que batizou a música — e até pelo próprio prefeito.

A obra foi criada em duas etapas: a melodia surgiu logo no início de 1965, mas a letra demorou meses para ser finalizada. Só foi concluída poucas horas antes do encerramento das inscrições, como relembrou o amigo Salomão Ribas Júnior:

“Lembro-me dos últimos retoques na letra, em uma das mesas do bar. Ali estavam Adolfo Zigelli, Neide Mariarrosa e o poeta, todos bebendo Campari, a bebida da moda. Zininho, galhofeiro, advertindo: ‘Bebam antes que coagule.’”

Interpretada por Neide Mariarrosa, a canção conquistou o primeiro lugar no concurso e se tornou um sucesso instantâneo no Carnaval de 1966, selando sua identificação com a cidade. Em 27 de agosto de 1968, por meio da Lei nº 877, proposta pelo vereador Waldemar Caruso e sancionada pelo prefeito Acácio Garibaldi Thiago, a música foi oficializada como Hino de Florianópolis. O compacto é parte do acervo da Casa da Memória.

Foto: Casa da Memória / Divulgação

“Rancho de Amor à Ilha” (Zininho)

Um pedacinho de terra,
perdido no mar!…
Num pedacinho de terra,
beleza sem par…
Jamais a natureza
reuniu tanta beleza
Jamais algum poeta
teve tanto pra cantar!

Num pedacinho de terra
beleza sem par!
Ilha da moça faceira,
da velha rendeira tradicional
Ilha da velha figueira
onde em tarde fagueira
vou ler meu jornal

Tua lagoa formosa
ternura de rosa
poema ao luar,
cristal onde a lua vaidosa
sestrosa, dengosa
vem se espelhar…

Ouça o “Rancho de Amor à Ilha” (Zininho)

Neide Mariarrosa

Julie Philippe e Wagner Segura

Associação Coral de Florianópolis

Dazaranha

Um mural para imortalizar o poeta

Em dezembro de 2023, o inesquecível Zininho recebeu uma homenagem à altura de sua importância. O artista Leonardo Furtado foi responsável por um mural de 70 metros quadrados, pintado na parede da Caixa Econômica Federal da Praça XV, durante a segunda edição do Festival Street Art Tour (SAT).

A agência, que leva o nome Poeta Zininho, abriga o imponente painel que retrata o compositor segurando a partitura do “Rancho de Amor à Ilha”, eternizando a obra-prima que se tornou hino da cidade. Ponto de referência para quem é de Floripa e para quem vista a cidade e gosta de mergulhar nas nossas referências históricas e culturais.

Foto: Marina Tavares / Street Art Tour / Divulgação

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Locais Citados

Mural do Zininho

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